Gente... tentei escrever essa postagem no dia 12 de dezembro, porém não consegui... por algum motivo, o blog "apagou" meu post! oO
Bem... agora que natal passou, vamos ver se eu consigo. Rs!
Em primeiro lugar, tentarei explicar o que é esse "complexo", homônimo do livro de Colette Dowling, escrito nos anos 70.
O "complexo de Cinderella" vem do velhíssimo conto de fada onde a moça, órfã e vivendo com madrasta e enteadas, é maltratada e explorada para fazer o trabalho doméstico que ninguém mais quer exercer.
E o que ela faz...? NADA. Apenas espera que alguém lhe salve, pois ela sozinha nada pode fazer. Aliás, ela nem TENTA. No conto, a bela "gata borralheira" nem tenta ser alguém sem a ajuda dos outros. E a tentativa é valiosa: o fracasso, embora frustrante nas primeiras tentativas, nos dá uma força que nos faz progredir, uma vez que nos mostra o que não fazer da próxima vez.
Mas Cinderella não quer tentar. Cinderella apenas se entrega aos trabalhos domésticos até o dia em que o príncipe lhe salve.
E o príncipe, bem... ele até a salva e eles vivem "felizes para sempre". Porém... será mesmo que ele a tratará melhor do que as suas enteadas?
Até porque, pensemos bem... se ele sabe que ela é tão dependente dele assim, o caminho para uma barganha, onde ele lhe dirá: "Ou faz o que quero, ou eu a desamparo", é o mais curto de todos.
E a gente sabe que não existem príncipes bonzinhos nesse mundo...
E nem princesinhas inocentes. As lindas donzelas poderiam muito bem ser educadas para poder se virar sozinhas - e o primeiro pré-requisito para isto é aprender a tomar "porrada na cara" da vida, se frustrar, aprender a superar os fracassos - somente assim a pessoa pode se tornar mais forte, seja ela homem ou mulher.
Mas até a mais bem sucedida das mulheres tem algu m traço de dependência emocional. Claro, ela cresceu achando que se engordasse ou parecesse mais velha do que realmente é, ela perderia o homem (vejam aí a barganha...). O homem não: pra ele, é charme ter cabelo grisalho, ou mesmo que ainda não o tenha e seja jovem, é charme ter barriga.
É como se a mulher tivesse sempre que se desculpar por ser mulher. É como se o homem fizesse um favor ao ficar com ela.
E como se faz com que uma mulher aceite ficar numa condição dessa, onde seu companheiro pode ser barrigudo mas ela tem de ser magrinha pra "prender o macho"?
Aprendendo, a vida toda, que deve ser dependente.
E esse é o cerne da questão. "Complexo de Cinderella" nada mais é do que a noção, consciente ou inconsciente, da própria mulher, que ela deve ter um homem do lado, é frágil e não conseguirá uma vida emocional, social ou mesmo financeira satisfatória sem um "homem para chamar de seu".
Ela inclusive é parente da mais aterrorizadora porém não menos nefasta "Síndrome de Estocolmo", onde o capturado sente que deve defender o seu algoz - pior, acha que sem ele não viverá. Sabe aquela frase: "Ruim com ele, pior sem ele"? Pois é. É a síntese perfeita - e mentirosa - da Síndrome de Estocolmo, que é alimentada pelo Complexo de Cinderella, o qual é desenvolvido nas meninas desde cedo.
Logo, aquela sua vizinha que apanha do marido e não denuncia, tá com a cabeça cheia de chifres e não manda o cara pastar, ou aquela sua amiga que diz que vai terminar o namoro há mais de ano e não o faz - ou, pior ainda, faz mas acaba deixando o traste voltar pra vida dela em menos de um mês após o término - pode até mesmo estar sendo "fraca", porém ela não é tão masoquista assim. Apenas lhe ensinaram que sem o homem ela não é nada.
E pra desconstruir essa merda, mas custa!
Li o livro de Colette Dowling há cerca de dois meses, e me identifiquei com algumas coisas. Eu, que tento me manter na temática feminista desde 2009. Imagine a mulherada por aí, como não deve de estar.
Logo, pensei em fazer uma série de postagens para esclarecer o tema de forma mais sucinta a quem estiver interessado/a.
Espero que gostem!